quarta-feira, 15 de agosto de 2012

EDUCAÇÃO NO ORIENTE PRÓXIMO E
 A EDUCAÇÃO GREGA E ROMANA


As primeiras sociedades que criaram instituições de ensino foram a mesopotâmica e a egípcia, a figura do escriba representa o objetivo destas instituições educacionais, dinamizar a burocracia pública . Há escribas também entre judeus e sírios. No império dos faraós, o acesso às escolas era restrito aos membros da elite e os menos abastados se limitavam a aprender o necessário para tornarem-se bons artesãos e agricultores. Uma das principais funções da escola no Egito era formar os escribas. aprendiam eles a usar os hieróglifos e o sistema cuneiforme de escrita (muito utilizado na comunicação com outras nações) para fazer a contabilidade estatal do império faraônico.  A educação não passava de uma fábrica de escribas. Estes  funcionários de ordem burocrática efetivavam o funcionamento da máquina estatal, e eram muito mais utilizados nas tarefas administrativas do que de ordem religiosa. Da mesma maneira, a escrita era destinada a dar significados relevantes à burocracia da época. Seus signos não foram criados para terem significados teológicos, ao contrário do que imaginava-se, tinha um objetivo prático n a incipiente burocracia. 

Na sociedade grega o acesso às escolas era restrito aos filhos de governantes e eupátridas, que deveriam aprender as disciplinas relacionadas à política (oratória, retórica) e à guerra. Rivalizando com a conhecida natureza militarista os helenos nos legaram a filosofia (Sócrates, Platão e Aristóteles e outros), o teatro (Ésquilo, Sófocles, Eurípedes), história encarnado nas efígies de Heródoto e Tucídides. A origem das ciências (matemática, física, medicina) serve de base para as ciências modernas. Pitágoras, Euclides, Arquimedes ampliaram os fundamentos da matemática. Os estudos de Hipócrates redimensionaram o conhecimento do corpo humano e deram novo rumo às ciências da cura.
Propala-se que foi no séculos XVII e XVIII, que se concebeu o conceito de que a educação deveria não ser um privilégio mas direito universal do homem. Todavia, Marrou escreve que foi Carondas de Catânia que preconizou a instituição de escolas gratuitas e públicas. Logo, vê-se que muito anteriormente ao “século da luzes”, o espírito de liberdade intelectual, autonomia e democracia, teve sua gênese no mundo grego.
Os gregos são conhecidos como a civilização da Paideia, que tinha o sentido de formação harmônica do homem, de todo o corpo e toda a consciência, o estado de um espírito plenamente desenvolvido, tão contemporâneo quanto Kant ou Rousseau.
Há ainda o conceito de cidadania, direito que o indivíduo tinha de participar do governo da pólis  entretanto, não esqueçamos que nem todos na Grécia eram considerados cidadãos. Só podiam participar da vida pública aqueles considerados cidadãos. Mulheres, pobres, estrangeiros etc., estavam alijados deste processo democrático. Mesmo parecendo um paradoxo os helenos nos transmitiram o embrião da democracia. Como podemos ver em Nelson, Filosofia e História da Educação. São Paulo, Àtica, 1987 de Claudino e Nelson Piletti. Consideramos legado grego, também, o conceito de liberdade política no Estado; a ideia de que a educação é a preparação para a cidadania; a ideia do desenvolvimento intelectual da personalidade; o “amor pelo saber”, a Filosofia; o conceito de que cada indivíduo encontra na razão o direito de determinar seus próprios fins na vida; a liberdade regida pela lei e por ela protegida, todos esses conceitos são relevantes à nossa sociedade. Tão em voga atualmente, permearam épocas é verdade que em determinado momento desvaneceram, entretanto, permaneceram latentes outrora e hoje, e se manifestaram nos movimentos humanista e iluminista.
Não há como falar sobre Grécia sem discorrer sobre Sócrates, Platão e Aristóteles. Três ícones da cultura helênica vejamos suas contribuições para a educação seguindo o que preconizam Claudio e Nelson Piletti, no livro Filosofia e História da Educação, pela editora Ática, 1987.    
 Sócrates (470-399 a. C.) Concebia que o conhecimento possui um valor prático ou moral, isto é, um valor de natureza universal e não individualista. O processo objetivo para obter-se conhecimento é o de conversação; o subjetivo é o de reflexão e organização da própria experiência. Ainda são evidenciadas utilizadas a maiêutica e a ironia. Foi o primeiro pensador que conflitou com os sofistas, que acreditavam  “o homem é a medida de todas as coisas”.logo, Sócrates conclui que a obrigação de todo homem é conhecer a si mesmo, nosce te ipsum.
Platão (428-348 a. C.) Platão concebia que o conhecimento só seria atingido progressivamente, partindo do mundo das sombras e aparências e transladando-se até o mundo das ideias e essências. A educação consiste na atividade que cada homem desenvolve para conquistar as ideias. O educador deveria promover no educando o processo de interiorização que leva  à luz.
A alegoria, ou mito da caverna, preconiza que a maioria dos seres humanos encontra-se prisioneira em uma caverna, de costas para a saída. Por uma abertura entra uma luz que reflete no fundo da caverna. Os “prisioneiros” acostumados a verem o reflexo da luz e as suas projeções  interpretam, então, como real a ilusão perpetrada por esse brilho enganoso. Atualmente discute-se muito sobre a função da mídia e da cultura, se ambas não são mecanismos de alienação e controle de massa, se em realidade essas não tem a função de mostras falsas realidades para mais fácil controlar as populações.
Aristóteles (384-322 a. C.)  em parte se opunha a Sócrates, o último defendia que a virtude estava na simples posse do conhecimento, enquanto, Aristóteles sustentava que a virtude está na busca e conquista da felicidade e do bem.
 Segundo o filósofo de Estagira, o processo de ensino deve corresponder ao seguinte plano metódico: o mestre deve expor a matéria do conhecimento; cuidar para que o conteúdo se “grave” na mente do aluno; buscar que o educando relacione as diversas representações mediante o exercício.


Em Esparta as pessoas eram orientadas para a intervenção na guerra e a manutenção da segurança da cidade, havendo poucos letrados inclusive entre as classes mais abastadas. Valorizava-se a preparação física que visava fazer dos jovens bons soldados e incutir um sentimento patriótico. O objetivo do indivíduo era de fortalecer o Estado, desde o nascimento até a morte. Os  recém-nascidos inaptos (deficientes) eram eliminados (portadores de moléstias físicas ou mentais). A criança ficava com a mãe até os sete anos de idade, os pais (cidadãos) não mais comandavam a educação dos filhos, depois eram entregues à orientação do Estado, que tinha professores especializados para esse fim. As escolas pareciam mais com casernas,  realizavam exercícios de treino com armas e aprendiam a táctica de formação, da infância à adolescência.
A educação feminina também era rígida, quase igual à dos homens. As mulheres participavam dos torneios e atividades desportivas, assim as escolas tencionavam dotá-las de um corpo forte e saudável para gerar filhos sadios e vigorosos. Porém, jamais era posto de lado seu adestramento para as tarefas do lar. As espartanas não era iniciadas nas letras.

Em Atenas, tal qual em Esparta, as mulheres também eram educadas às tarefas familiares, todavia, a educação era administrada de outra forma, pois até mesmo nas classes mais pobres da sociedade ateniense encontrava-se homens alfabetizados.
Os atenienses varões eram instruídos para cuidarem não só da mente como também do corpo, o que lhes dava vantagem na hora da guerra, pois eram tão bons guerreiros quanto eram estrategistas.
Diferente de Esparta, em Atenas, via-se o Estado como um meio para de assegurar a liberdade pessoal (semelhante aos conceitos de Locke)  havia, então, uma estrutura que assegurava  essas prerrogativas tendo por base a educação. Sólon concebia a instrução da juventude como uma missão essencial do Estado, todavia este (o Estado) nunca monopolizou a educação, sendo que os pais participavam ativamente da criação dos filhos. Os meninos, quando ainda pequenos - aos sete anos de idade -, já começavam suas instruções na escola e em suas próprias casas com o auxilio do pedagogo - considerado um escravo especial. Antigos poetas como Homero eram citados em suas aprendizagens. Literalmente, a palavra pedagogo vem de paidos = criança; agein = conduzir, designando sua função de guiar as crianças às escolas. O ateniense, em sua puerícia, frequentava dois tipos de escola a de música e de ginástica ou palestra.

A cultura helênica foi disseminada pelo “mundo conhecido” após as conquistas realizadas por Alexandre Magno (356 – 323 a. C.). Tal  processo caracterizou-se por um seguimento  de interações entre a cultura grega clássica e a cultura dos povos orientais conquistados. Representando uma forma de continuação  das escolas platônica (Academia) e aristotélica (Liceu).
 Este movimento que pode ser considerado com uma “proto globalização”, teve como centro cultural do mundo antigo, a cidade de Alexandria, no Egito, onde havia sido erigida a maior biblioteca da Antiguidade, fundada por Ptolomeu Sóter, a biblioteca de Alexandria. Lá era onde se compilava “todo o conhecimento” de antanho, em forma de pergaminhos, que eram copiados de livros (muitas vezes traduzidos) e após a reprodução em pergaminhos eram devolvidos aos seus respectivos donos (mercadores, estudiosos viajantes, sacerdotes geralmente estrangeiros). Alexandria era um centro comercial e cultural e em muitas ocasiões as embarcações que lá chegavam (fenícios, babilônicos, helenos...) traziam parte de seu conhecimento científico, historiográfico, matemático, religioso, astrológico, arquitetônico etc., que os estudiosos e copistas de Alexandria solicitavam, para venda ou cópia, e eram acrescidas ao conjunto de obras que integravam o patrimônio da biblioteca.

A educação na antiga Roma, em sua gênese era quase oposta à grega. Ela desenvolveu-se concomitantemente a dos helenos. Entretanto, mesmo sendo paralela foi mais tardia, mais lenta, menos radical e universalizada.
Nos primeiros séculos a educação romana desenvolveu-se isolada, à margem da Grécia, e mesmo após a incorporação (assimilação que levou a um burilamento dos modelos romanos, arquitetura e escultura, letras, filosofia, teatro e religião, em inúmeros aspectos, em destaque aqui a educação) da cultura desta, manteve-se traços da velha educação romana. Segundo B. Sarthou, em “Roma Antigua” tais deslocamentos progressivos se deram apenas pela presença dos “pedagogos gregos”, “os cativos haviam cativado Roma”, mas nunca suplantaram a graça e elegância grega. Os romanos eram descendentes de camponeses e o que lhes interessava mesmo era o caráter utilitarista dos objetos e técnicas.
 O modelo de instituição educacional grego, pelo menos o mais conhecido, foi utilizado por Roma (no século III  a. C. a Grécia foi incorporada por Roma) que acrescentou elementos de educação moral e cívica ao currículo heleno. Esta moral é também denominada de “virtude romana”, orgulho nacionalista, enfim, ufanismo. Nos tempos de Augusto escrevia o poeta Horácio “Dulce et decorum est pro patria mori” , (Doce e belo é morrer pela pátria), evocando uma restauração moral.
Se compararmos ambas as civilizações, os latinos parecerão “bárbaros” em relação ao grau evolutivo dos gregos, já que era um povo que descendia de camponeses deslumbrados pela sua origem lendária (criam ter sido descendentes de Enéas de Troia). A civilização romana articulara uma política  adaptada aos moldes aristocráticos, como na Grécia e suas duas grandes pólis em Roma havia uma enorme gama de excluídos e escravos, mesmo durante o Império.
Segundo o autor citado, até os sete anos o menino recebia em sua casa uma instrução rudimentar, aos treze passava a frequentar o campo de Marte, onde aprendia a manejar as armas. Seguindo o modelo espartano, estes passavam a marchar e a treinar cada vez com maior intensidade. O autor destaca esta austeridade e rigidez:

“Al mismo tiempo apredia a ser duro consigo mismo y con el  prójimo, a cultivar su campo y a salvaguardarsus intereses, a ser sobrio, silenciosoy en extremo respetuoso de la  autoridad.”

Surgiram no final deste período escolas elementares denominadas ludi (jogo, brinquedo em latim).  Tal denominação acontece porque a instrução nas artes de ler e de calcular era considerada uma diversão quando comparada com a educação recebida no lar. O ludi-magister era quem ensinava às crianças.
A Grécia ao ser conquistada, em 146 a.C., influenciou de tal maneira aos romanos que eram os gregos que tinham por missão ensinar aos latinos a arte da oratória, para ocupação das magistraturas.
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O pedagogo (havia apenas escravos e preferivelmente oriundos da Grécia) ensinava as primeiras letras e exigia que o aluno de memória tivesse decorada a Lei das Doze Tábuas, orientando-o a cantarolar em cadencia facilitando sua memorização. A severidade era notória e era incluído no material didático uma varinha utilizada para fustigar e auxiliar.
As crianças recebiam ensinamentos dos preceptores. Entre principais estavam o ensinamento gramático: aos treze anos os jovens frequentavam um curso de gramática, que os iniciava nas leituras dos poetas antigos, especialmente os gregos. Os versos eram decorados e declamados. Também recebiam os retores: estes eram os professores de eloquência e tinham o objetivo de tornar os alunos peritos em retórica, aperfeiçoando-os no campo dos discursos políticos.
Surgiram o estudo da ciência do Direito, da Filologia e da Filosofia e outras ciências particulares. No campo do Direito foi imprescindível uma sistematização na formação dos juristas e magistrados, sendo que em Roma e depois em Constantinopla, floresceram os melhores centros docentes. O surgimento destas instituições foi o embrião das futuras Universidades em Roma, o imperador Adriano alicerçou a fundação do Ateneu (instituição destinada ao ensino superior). A partir daí foi dado primeiro passo para a organização das Universidades.









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